O vidro
A história do surgimento do vidro remonta a milhares de anos, confundindo-se com a história da humanidade, suas conquistas nas diversas áreas, expansões culturais e territoriais.
Entre 3 e 4 mil anos atrás, sabia-se que através da fundição de elementos naturais em altas temperaturas chegava-se a novos materiais até então desconhecidos, como o ferro e o bronze já bastante utilizados. Em busca de novos resultados pesquisas eram realizadas. Indícios nos levam a crer que na região da Mesopotâmia, entre os Rios Tigre e Eufrates, alcançaram um resultado brilhante, um material opaco e rígido, com características bem diferentes dos metais, lembrando mais um pedra preciosa. Eram os primeiros passos para que com esta pasta vítrea, séculos e séculos depois, se chegasse ao vidro como é hoje conhecido.
As matérias fundidas então eram a sílica em forma de areia e quantidade preponderante, o natron – material sódico que baixava o ponto de fundição da sílica, e cinzas vegetais com boa quantidade de potássio e mais alguns óxidos.
Esta mistura fundida em precários fornos, passava ainda por um demorado processo de difícil purificação em que eram acrescidos óxidos que lhe davam cores. O conhecimento deste sistema de produção se expande pela Fenícia, Síria e norte da África, no Egito.
Com esta pasta vítrea eram produzidos pequenos objetos decorativos, de uso pessoal ou doméstico, que se limitavam a placas, cilindros, anéis, miniaturas e imitações de pedras preciosas, muito valorizados e destinados a elite da época.
A grande evolução da produção vidreira aconteceu séculos mais tarde quando se passou a utilizar um tubo oco metálico que possibilitava que a pasta vítrea fosse soprada ganhando formas variadas, como garrafas, vasos e vários utensílios. O resultado do desenvolvimento desta ferramenta é a cana de vidreiro até hoje fundamental na produção do vidro artístico.
A expansão do vidro acompanhou a trajetória das conquistas territoriais tendo séculos mais tarde uma grande influência do Império Romano, que havia trazido do Egito artífices que com seus conhecimentos produziram o vidro romano e mais tarde o disseminaram pela Europa.
Na decadência do Império Romano, as famílias que dominavam as técnicas e os conhecimentos vidreiros se espalharam pela Europa. Alguns grupos específicos se destacaram por motivos próprios, como aqueles de Altare e Veneza no norte da Itália.
Veneza tem um papel muito importante na história do vidro. Sua produção era incentivada para fins comerciais com o oriente, tanto que para resguardar seus segredos, em 1290 as fábricas de vidro foram limitadas à ilha de Murano à setecentos metros de Veneza, onde a entrada e saída dos mestres vidreiros eram severamente controladas. Em contrapartida, estes artesãos receberam regalias de nobres inclusive com direito de cunhar suas próprias moedas de prata e ouro.
A importância de Murano, que passou a ser sinônimo do vidro ali produzido, foi a constante busca do aperfeiçoamento das técnicas e qualidade, tendo sido, naquela ilha no séc. XV desenvolvido o primeiro vidro cristalino ou transparente.
A produção vidreira já era realizada em vários pontos da Europa, Oriente e Ásia. Com o vidro cristalino, um novo impulso toma conta do mundo vidreiro. Na Inglaterra, países nórticos e na Bohemia, o chumbo é adotado como fundente originando peças utilitárias finas, com sonoridade e brilho intenso.
Murano aperfeiçoa seu vidro artístico, colorido, exigente de um trabalho artesanal e de muita criatividade mantendo assim a tradição das origens egípcias e fenícias. Enquanto Murano manteve-se produzindo o vidro artístico totalmente dependente do trabalho manual, a indústria fora dali implantou progressivamente máquinas em sua produção, aperfeiçoando o vidro plano em grande variedade e toda sorte de produtos, de componentes de naves espaciais à panelas, que hoje fazem parte da vida do homem moderno.